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História - da descoberta ao uso

 

O paracetamol (recommended international nonproprietary name) ou Acetominofeno (USAN) é o único sobrevivente dos chamados “derivados da anilina” ou “analgésicos anilinicos”: acetanilida, fenacitina e paracetamol. Os dois últimos são ambos derivados do primeiro. [1]

 

 

               

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A atividade antipirética da acetanilida foi descoberta por serendipismo, em 1880, fruto de um erro farmacêutico. Na Universidade de Estrasburgo, o Prof. Kussmaul, do departamento de medicina interna solicitou a dois dos seus assistentes (Cahn e Hepp) a administração de naftaleno para o tratamento de parasitas intestinais. Curiosamente, apesar de poucas melhorias na eliminação dos parasitas, um dos pacientes apresentou uma redução acentuada da temperatura corporal. Foi aí que se descobriu o erro, da troca de naftaleno por acetanilida. [2] Esta foi rapidamente colocada em prática na medicina, em 1886, sob o nome de “antifebrina Cahn and Hepp”, atribuindo-lhe igualmente propriedades analgésicas. No entanto, os seus marcados efeitos secundários, o principal sendo a cianose induzida pela presença de metahemoglobina no sangue, levaram ao desenvolvimento de derivados da anilina menos tóxicos. [1-3] Após testados inúmeros compostos, os resultados mais promissores foram atingidos com a fenacitina e o paracetamol. Estes dois compostos foram então introduzidos na prática clínica em 1887 por Von Mering, que rapidamente abdicou do paracetamol em favor da fenacitina, por acreditar que esta última fosse menos tóxica. [1]

 

Embora em parte ofuscada pela aspirina, a fenacitina teve um sucesso extraordinário ao longo de décadas e foi indiscriminadamente utilizada, especialmente como parte de misturas analgésicas (que incluíam, para além da fenacitina, a aspirina ou semelhante, a cafeína e, por vezes, um barbitúrico). Como consequência deste uso excessivo crónico, verificaram-se sérias intoxicações crónicas, caraterizadas por anemia, metahemoglobinémia, cancro da bexiga (provavelmente por ação do seu metabolito - ácido hidroxámico) [2] e dano renal severo, com elevada incidência de necrose papilar (que ficou popularmente conhecida como nefropatia analgésica). [1]

 

Em 1948, Brodie and Axelrod demonstraram que o principal metabolito responsável pela ação analgésica da acetanilida e da fenacitina era o paracetamol, enquanto que o efeito secundário da metahemglobulinemia foi atribuído a outro metabolito, a fenilhidroxilamina. Pode-se, portanto, afirmar que o paracetamol foi “redescoberto”, tendo sido lançado no mercado desde meados de 1950. Preocupações sobre a sua segurança dificultou a sua aceitação generalizada até 1970. A partir daqui, rapidamente ganhou popularidade, chegando mesmo a ultrapassar as vendas da aspirina em alguns países, como no Reino Unido. O paracetamol tornou-se, assim, um dos fármacos mais usados no mundo para o tratamento da dor e da febre, e provavelmente o medicamente mais comummente prescrito para crianças. [1]

Figura 1 - Estruturas químicas dos derivados da anilina. (retirado de Bertoli, A., 2006) [1]

1. Bertolini, A., et al., Paracetamol: New Vistas of an Old Drug. CNS Drug Reviews, 2006. 12(3-4): p. 250-275.

2. Remião, F., Mecanismos de Citotoxicidade: Stress Oxidativo. 2015.

3. Brune, K., B. Renner, and G. Tiegs, Acetaminophen/paracetamol: A history of errors, failures and false decisions. European Journal of Pain, 2014: p. n/a-n/a.

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