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Farmacologia

Farmacocinética [1]

 

Em doses normais, o paracetamol é bem absorvido, atingindo o pico plasmático dentro de 1 hora. Mesmo em doses tóxicas, a absorção do fármaco é praticamente completa ao fim de 4 horas, não ocorrendo nenhuma elevação sanguínea após este período.

 

Em doses terapêuticas, a biodisponibilidade do fármaco é de 75-80%. O paracetamol não se liga a proteínas do plasma. Nos adultos, é maioritariamente conjugado com glucuronidos e sulfatos no fígado, e o pico destes conjugados aparece no sangue entre 1 a 3 horas após a toma. O tempo de semi-vida depende da funcionalidade hepática, sendo que em indivíduos adultos saudáveis é de cerca de 2 horas. Este valor sobe para as 3 horas em caso de intoxicação em adultos sem danos no fígado, devido à saturação das vias de glucuronidação e sulfatação. Em pacientes que desenvolvem posteriormente dano hepático, a semi-vida é prolongada para 7,6 horas.

 

Quando tomado em doses normais, a excreção urinária ocorre como fármaco intacto (5%), como conjugado com glucuronido (55%), como conjugado com sulfato (30%) e como conjugado com ácido mercaptúrico (8%). Em overdose sem dano hepático, estas proporções modificam para 9, 75, 9 e 7%, respetivamente, refletindo a saturação precoce da via de sulfatação. Em casos de intoxicação com necrose do fígado, as proporções são de 9, 66, 10 e 15%, o que demonstra um aumento  dos conjugados  com glucuronidos e ácido mercaptúrico devido à saturação da via de sulfatação e ao aumento da ativação metabólica do paracetamol.

 

Os dois efeitos sistémicos do paracetamol de relevância terapêutica são a analgesia e a antipirese, uma vez que os seus efeitos anti-inflamatórios e anti-reumatismais são praticamente nulos. Para além disso, foram reportados outros efeitos após a toma deste fármaco, que são aliás partilhados pelos outros derivados analgésicos da anilina, como sejam: relaxamento, leve sonolência, euforia ou sensação de tranquilidade.

 

A eficácia analgésica provocada pelo paracetamol é equivalente à da aspirina, sendo que são necessários níveis plasmáticos superiores de acetamonifeno para este efeito do que aqueles requeríveis para alcançar atividade antipirética.

 

O efeito máximo em adultos é atingido com uma dose de 1000 mg de paracetamol, pelo que um aumento da dose não resulta num aumento da atividade analgésica, mas aumenta a sua toxicidade! O efeito analgésico/antipirético de uma dose de paracetamol dura cerca de 3-4 horas.

Efeitos farmacológicos [2]

Usos terapêuticos [2]

De um modo geral, o paracetamol está indicado para a dor leve a moderada, tal como a sentida em situações como dores de cabeça, constipações, gripes, dores musculares, entorses, dores de costas, dismenorreia, dores de artrite menores e dores de dentes. Trata-se assim do fármaco de eleição para tratar condições não inflamatórias leves ou moderadas em pacientes susceptíveis a dano gástrico e é preferível à aspirina em pacientes em terapia anticoagulante ou com desordens de coagulação.

 

Apesar de o paracetamol, sozinho ou em combinação, poder ser útil para o tratamento das dores menstruais, os AINEs são geralmente mais efetivos, devido ao seu mecanismo de ação (inibição das cicloxigenases).

 

Em doses orais de 15-20 mg/kg a cada 4 horas, o paracetamol é o pilar do tratamento de dores de cabeça em crianças. Em idosos, em pacientes com doença renal, hipertensão ou insuficiência cardíaca congestiva, é considerado uma alternativa segura aos AINEs para o alívio da dor leve a moderada.

Interações farmacológicas [2]

O paracetamol é passível de interagir com outros fármacos, potenciando ou diminuindo/inibindo os seus efeitos. Por outro lado, uma vez que é maioritariamente metabolizado pelo fígado, fármacos que interfiram positiva ou negativamente com essa metabolização vão ter efeitos na sua ação. De seguida encontram-se, então, alguns exemplos destas interações.

               

O acetaminofeno potencia os efeitos anticoagulantes do acenocumarol e da varfarina, aumentando o risco de sangramento. O mecanismo não está bem esclarecido e comprovado. Assim, pacientes que tomam anticoagulantes orais devem ter precaução no uso deste medicamento.

A carbamazepina aumenta o risco de hepatotoxicidade do paracetamol, por induzir o metabolismo hepático deste e, consequentemente, aumentar a formação de metabolitos tóxicos.

Uma das maiores preocupações é a interação com o álcool. O síndrome “álcool-paracetamol” é caracterizado pelo desenvolvimento de sintomas de toxicidade hepática aguda em alcoólicos crónicos que tomam paracetamol, mesmo em doses consideradas não tóxicas. A mortalidade derivada ronda os 20%, que pode ultrapassar os 75% se houver desenvolvimento de falência hepática aguda.

 

O uso concomitante destes dois fármacos aumenta o metabolismo do paracetamol mediado pela CYP2E1, com formação do metabolito tóxico NAPQI (ver hepatotoxicidade). Nas pessoas não alcoólicas, este metabolito é destoxificado pela glutationa. No entanto, nos alcoólicos, a combinação da indução enzimática com a depleção da glutationa resulta numa acumulação de NAPQI. Nestes casos, o risco mais elevado de toxicidade ocorre após um breve período (12 horas) de abstinência alcoólica, uma vez que a CYP2E1 é na mesma induzida, mas o álcool não está presente para competir para o metabolismo por esta isoenzima.

Fig.1 : Não ingerir bebidas alcoólicas com paracetamol. (Retirada de http://www.areah.com.br/vip/perigo/materia/63561/1/pagina_1/tylenol-e-alcool.aspx)

1. Thomas, S.H., Paracetamol (acetaminophen) poisoning. Pharmacol Ther, 1993. 60(1): p. 91-120.

2. Bertolini, A., et al., Paracetamol: New Vistas of an Old Drug. CNS Drug Reviews, 2006. 12(3-4): p. 250-275.

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